PERSONAGENS

Bartolomeu Gomes da Silva

Filho de Paulo Gomes de Souza e Antônia Batista da Silva, nasceu em 29 de maio de 1929 em Porto Franco – MA. Chegou à região de Trombas em 1953 e no ano seguinte comprou 50 alqueires de terra. Sem ter recebido qualquer documento que comprovasse a compra, o antigo dono pediu que a Polícia fizesse o despejo de Bartú, como era conhecido.

Em 1958, foi eleito vereador pelo município de Amaro Leite, sendo do Partido Social Democrático (PSD). Em 1961 foi à Cuba a convite de Farid Hellon para assistir às festividades comemorativas da Revolução Cubana. Um dos companheiros de viagem era Valter Valadares.

Em 3 de fevereiro de 1964, um ano depois da criação de Formoso, foi nomeado prefeito deste município pelo governador Mauro Borges, mandato que durou apenas um mês devido ao advento do Golpe Militar. Após a renúncia, Bartú se mudou para Paraíso, município de Porto Franco. Em 1969 mudou-se para Buriti – GO, onde foi preso logo em seguida. 

Fonte: Inquéritos Policiais

Entrevistas cedidas ao pesquisador Paulo Cunha

 

Geraldo Tibúrcio

Militante do Partido Comunista do Brasil, mudou-se para a Chapada dos Veadeiros em 1942 para trabalhar no garimpo. Em 1944, foi para Anápolis onde trabalhou como servente de pedreiro. No ano seguinte voltou para Catalão, sua cidade natal, ainda trabalhando como servente de pedreiro, e se casou com Odília, camponesa do mesmo município.

Foi para a Colônia Agrícola de Ceres onde morou e trabalhou na mobilização dos camponeses. Por volta de 1953 foi para a região de Trombas, sendo um dos primeiros militantes do Partido a ser enviado para o local. Em 1954 foi eleito o primeiro presidente da ULTAB (União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil). 

Participou da fundação da Associação dos Trabalhadores e Lavradores Agrícolas de Formoso e Trombas. Em 1964 fez a viagem para o Maranhão de canoa junto a José Porfírio, seus dois filhos e seus dois irmãos. Em 1965 foi preso no Maranhão. 

Fonte: Inquéritos Policiais 

Entrevistas cedidas ao pesquisador Paulo Cunha

 

José Porfírio de Souza

Filho de Teófilo de Souza Gil e Maria Joaquina, nasceu em 27 de julho de 1912 no município de Pedro Afonso –MA. Viveu nesta cidade até constituir família, quando se casou com a baiana Roseira / Rosa Amélia de Farias, do município de Remanso e com quem teve nove filhos, um morto e três desaparecidos.

Em 1949 soube do progresso da região sul de Goiás e foi até o local para ver suas condições. Em 16 de setembro de 1950 voltou com sua família e mais outras cinco para o município de Amaro Leite. Em 1954, sua mulher morreu aos 28 anos de idade e José Porfírio teve seu rancho incendiado por grileiros que começavam a pressionar os posseiros da região.

Em 1956 ele entrou no Partido Comunista, no ano seguinte se casou com Dorina da Silva Pinto com quem teve mais seis filhos. José Porfírio se tornou um dos líderes do conflito de Trombas e Formoso na busca pela posse das terras. Em 1960 viajou à Cuba, onde ficou 8 meses.

Em 1962 foi eleito deputado estadual de Goiás, primeiro camponês a assumir esse cargo, pela coligação PTB-PSB com 4663 votos, sendo o mais votado. Foi o 1º presidente da Federação de Agricultores e Trabalhadores Rurais de Goiás, além de presidir o Congresso de Camponeses de Belo Horizonte e Goiânia. 

Em 1964, com a Ditadura Militar, foi considerado foragido da Justiça e em 1972 foi preso na Fazenda Riachão, em Angelical – MA. Foi condenado a seis meses de prisão, sendo solto em 07 de junho de 1973. José Porfírio comprou uma passagem para Goiânia e nunca mais foi visto, desaparecendo com 61 anos de idade.

Fonte: Jornal O Movimento de 21 de Agosto de 1978 (página 08)

Inquérito Policial

Jornal Diário da Manhã

 

Nego Carreiro

Matou o sargento Nelson com um tiro na testa, marcando o início do conflito armado na região de Trombas e Formoso. Figura lendária por sua coragem e destreza, Nego Carreiro, desmistificou a ideia do camponês pacato e passivo. Sempre armado, Carreiro dizia que “com tanta bala de grileiro, também havia de ter bala de camponês”.

Chegou com a família, na região de Formoso, em 1949 e ocupou uma terra de 20 alqueires no córrego Manuel Gomes no Coqueiro do Galho. Os dois primeiros anos foram tranqüilos e sem nenhuma intervenção. Mas o problema não tardou a chegar e, sem apresentar qualquer documentação, os grileiros passaram a exigir o pagamento do arrendo, o qual Carreiro teve que pagar. Nego foi vencido pela hostilidade de dez homens, dentre policiais e jagunços, bem armados e prontos para atirar a qualquer deslize.

No entanto, a segunda visita não foi tão bem recebida por Nego Carreiro, que se recusou a pagar o arrendo e não aceitou as ameaças do sargento Nelson, o que acabou resultando na morte do policial. Em represália, sua mulher e seu filho foram espancados pela polícia e tiveram sua casa queimada.

Fonte: A Revolta Camponesa de Formoso e Trombas, de Maria Esperança Fernandes Carneiro.

 

Odília Pereira Barros

Nasceu no município de Pedro Afonso, no Maranhão e mudou-se, em 1951, para região de Trombas. Ela e seu marido, José de Castro, ficaram sabendo por meio de um cunhado que o local era repleto de terras devolutas e que poderiam tomar posse e trabalhar na terra. Hoje vive em Minaçu.

“Tiveram 48 minutos de tiro, e eu tava dentro do mato com seis meninos e um menino de cinco meses... com a boca no peito pra não chorar.”

Fonte: Depoimento concedido ao documentário “Trombas e Formoso: memórias de uma luta”

 

Dorina Pinto da Silva

Viúva de José Porfírio. Nasceu em Cabiceira, no estado de Goiás. Foi para a região de Trombas e Formoso tinha apenas 12 anos, acompanhando as primeiras famílias levadas por José Porfírio. Dorina e sua família tomaram posse nas proximidades do Córrego da Onça e de Trombas.

Na época, ainda não havia conflitos e no local residiam somente 10 famílias. Três anos depois, casou-se com José Porfírio, sendo sua segunda esposa. Com ele teve seis filhos. Em 1962, quando Porfírio foi eleito deputado estadual, se mudou para Goiânia, onde ficou por dois anos, quando o mandato do marido foi cassado. Hoje vive em Minaçu e não gosta de relembrar o passado.

“Nunca mais vi. Acharam quatro ‘Zé Profiro’, mas nenhum era ele. Eles mataram ele. O cara lá mesmo no Supremo Tribunal de Justiça no julgamento nosso, falou que eles tinham matado ele. Ele não ficou lá nem um mês na cadeia.”

Fonte: Depoimento concedido ao documentário “Trombas e Formoso: memórias de uma luta”

 

Geraldo Marques

Nasceu no município de Pompeu em Minas Gerais, em 26 de Março de 1912. Filho de Maria Margarida e Rafael Marques, Geraldo sempre honrou os passos do pai, ao trabalhar desde menino na lida com a terra. Aos seis anos de idade já trabalhava como guia de carro de boi, aos 10 era lavrador e aos 18 anos, peão.

Em 1954, chegou à região de Formoso como membro do Partido Comunista do Brasil (PCB), acompanhado de outros três companheiros: Geraldo Tibúrcio, José Ribeiro e João Soares. O objetivo era tirar posse na região e auxiliar na organização da resistência dos posseiros.

Geraldo Marques sempre se opôs a exploração que fazendeiros exerciam sobre camponeses e conheceu bem essa realidade. Ainda em Minas Gerais, trabalhou como arrendatário, meeiro e, também, como assalariado. Ouviu falar nas terras devolutas e baratas existentes em Goiás e, em 1940, se mudou para cá.

Em 1946, ingressou no PCB e passou a entender a revolta que sentia ao ser explorado. A luta transformou-se de pessoal para política, de individual para coletiva. Foi quando ele saiu de Goiânia e foi para Colônia Agrícola de Ceres e em seguida para Formoso, sempre trabalhando para o PCB. Geraldo Marques morreu em 11 de janeiro de 1987.

Fonte: A Revolta Camponesa de Formoso e Trombas, de Maria Esperança Fernandes Carneiro.

 

José Ribeiro

Militante do PCB e um dos raros camponeses que fizeram parte do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil. Ribeiro nasceu no dia 5 de Julho de 1922, numa fazenda perto da cidade de Piracicaba, distrito de Araguari, Minas Gerais, onde viveu até os 30 anos. Nascido e criado na roça, Zé Ribeiro como era conhecido, desde os 8 anos já trabalhava como guia de carro de boi.

Ribeiro estudou pouco. Ele mudava constantemente, de fazenda em fazenda e, em período de colheita não podia estudar. Chegava a freqüentar dois a três meses de aula em um ano letivo. Quando completou 18 anos, seu pai vendeu suas terras e foram para Araguari. Lá trabalhou como entregador de pão, garimpeiro, carroceiro e até mascate. Mas a lida com a terra estava no sangue e logo voltou para a roça. Em 1951, se mudou para Goiás.

Aos 32 anos, se casou com, a também militante política, Dirce Machado. O casamento foi quase às pressas, já que haviam sido designados pelo partido para organizarem o movimento de resistência em Formoso. Chegaram à região em 1954, indo residir no Córrego da Pipoca. Em 1956, adquiriu posse na Mata do Formoso. Foi um dos fundadores da Associação dos Trabalhadores e Lavradores Agrícolas de Formoso e Trombas, da qual foi secretário. Ribeiro, juntamente com Geraldo Marques, José Porfírio e João Soares foi liderança no movimento, pelo qual após o golpe militar, foi preso e perseguido. José Ribeiro faleceu no dia 09 de setembro de 2001.

Fonte: A Revolta Camponesa de Formoso e Trombas, de Maria Esperança Fernandes Carneiro.

 

João Soares

“Era camponês também, hoje está desaparecido, foi um dos líderes do movimento de Formoso. Homem de muita coragem e posição. Mas a gente não vai dizer nada da vida dele, porque cada qual fala por si.”

Fonte: Depoimento de Geraldo Marques retirado do livro A Revolta Camponesa de Formoso e Trombas, de Maria Esperança Fernandes Carneiro.

 

Manoel de Souza Castro 

Nasceu em 1934, no município de Pedro Afonso, no Maranhão. Morava numa região muito pobre e distante da cidade, gastava cerca de três horas para chegar ao ponto de venda mais próximo para comprar o que necessitava. Em 1958, veio para a região de Trombas e Formoso, onde logo se juntou ao irmão José Porfírio na luta pelo direito da terra. Foi preso em 29 de março de 1972 e levado para Brasília, no presídio X1. Na época era recém-casado. Foram 45 dias de tortura e espancamento, os quais desencadearam em problemas de saúde que levaram a sua morte, em primeiro de Maio de 2009.

“Eu fui pego em casa. Eu estava recém-casado e vinha aqui. Cheguei tinha feijão pra colher. Chamei a mulher pra levantar e coar um café pra mim, eram 5 horas da manhã. Ela tardou um pouco pra levantar e eu acendi o fogo. Quando eu acendi o fogo, ela foi cuidar de coar o café. Quando ela foi levar o café pra mim, eu olho na estrada não tinha distância mais, não tinha distância mais pra correr, tive que permanecer de pé, aí eles me prenderam.”

Fonte: Depoimento concedido ao documentário “Trombas e Formoso: memórias de uma luta”

 

Arão de Souza Gil

Irmão de José Porfírio. Arão nasceu 26 de Fevereiro de 1936. Saiu do município de Pedro Afonso, no Maranhão e veio para Tocantinópolis-TO, na época município de Goiás, onde morou oito anos. Depois voltou para a região onde morava, mas sua família já tinha se mudado para Trombas. Arão, então, acompanhado de um padrinho veio para a região para estudar. Em 1957, por conta do conflito armado, ficou 60 dias entrincheirado, quando começou a participar da organização da revolta. Fugiu com José Porfírio, logo após o golpe militar,mas nunca chegou a ser preso.Ainda hoje vive em Trombas, na mesma posse que conquistou na década de 50.

“Valeu a pena porque não foi só em benefício da gente, mas em benefício de todos os outros. Se muitos hoje não têm a terra é porque jogaram fora, mas todo mundo que resistiu recebeu um pedaço de terra pra sobreviver.”

Fonte: Depoimento concedido ao documentário “Trombas e Formoso: memórias de uma luta”

 

Dirce Machado da Silva

Dirce Machado da Silva nasceu em 1934, na cidade de Rio Verde, Goiás, numa família numerosa de camponeses pobres. Sua família vivia e trabalhava numa fazenda como arrendatários. Desde pequena, Dirce manifestava seus ideais revolucionários, não aceitando a exploração a que sua família era submetida.

Aos quatorze anos entrou em contato com o Partido Comunista do Brasil (PCB). Aos quinze, mudou-se para Goiânia e tornou-se militante profissional do PCB. Algum tempo depois, pediu transferência para a base do Partido em Ceres e começou a militar junto ao movimento camponês, na Colônia Agrícola de Ceres (CANG). Aí conheceu e se apaixonou por José Ribeiro, também líder camponês e militante comunista. Os dois se casaram e se mudaram para Trombas, para auxiliar na organização dos camponeses. Durante a Revolta, ajudou a organizar os camponeses, principalmente as mulheres, criou escolas e fazia atendimentos à saúde da população. 

Em 1964, com o golpe militar, fugiu com José Ribeiro e se escondeu numa caverna. Depois, também fugindo da polícia, foi para Brasília para cuidar de uma ferida na perna. Em 1967, voltou a Trombas e se escondeu na mata, dentro de sua própria posse. No mesmo ano foi presa, juntamente com seu irmão e seu marido. Dirce e José Ribeiro foram torturados e levados para Formoso, Goiânia e Brasília. 

Em 1980, foi vereadora por dois mandatos em Formoso (GO) pelo PMDB. Atualmente, vive em Goiânia e mantém os mesmos ideais.

“Mas eu acho que foi bom, valeu, é um exemplo, exemplo profundo que o camponês pode e tem condição de ser vitorioso.”

Fonte: Nunes, Ana Lúcia. Dirce Machado: uma mulher de coragem. A Nova Democracia, Rio de Janeiro, p.21, ano 7, ed.50, fevereiro, 2009.

 

Walter Valadares de Castro

Walter Valadares de Castro nasceu em 1935, na cidade de João Pinheiro, Minas Gerais. Envolveu-se com o movimento estudantil quando estudava no Colégio Lyceu de Goiânia e participava da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Participou ativamente da campanha “O Petróleo é nosso”, organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCB). Aos 16 anos ingressou no Partido.

Em 1954, aos 20 anos, deixou o emprego de funcionário público da Assembléia Legislativa de Goiás e partiu para Trombas, com o objetivo de auxilar os camponeses. Da capital, levou armas, munição, papel e um mimeógrafo para rodar os volantes de propaganda da luta camponesa.

Em 1960 vai para Cuba, numa visita oficial do Partido Comunista do Brasil. Em 1964, com a ditadura militar, foge de Goiás, vivendo em vários estados, como Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em 1969 visitou a Rússia. Em 1966 foi condenado a três anos de prisão, no processo que ficou conhecido como “As cadernetas de Prestes”, incurso nos artigos 7º* e 9º** da Lei de Segurança Nacional. Volta a Goiás em 1973. No mesmo ano é preso e levado para o Rio de Janeiro. Foi solto dias depois. 

Atualmente, vive em Goiânia e nunca deixou de acreditar na luta do povo.

“ Eu não tenho nenhum arrependimento de ter ido, pelo contrário, eu acho que era minha obrigação(...).Eu acho que foi válido, mais do que válido e acho que é uma pena hoje, praticamente, todos aqueles movimentos que se chamavam de esquerda e comunista, hoje todos aderiram ao poder.”

Fonte: Nunes, Ana Lúcia. Trombas e Formoso: o triunfo camponês. A Nova Democracia, Rio de Janeiro, p.17, ano 4, ed.29, abril, 2006.

 

Selvino de Souza Gil

Filho de Gabriel Porfírio e Elvira de Souza Gil / Porfírio, nasceu em 16 de abril de 1938 no município de Pedro Afonso, no Maranhão. Em 1950, mudou-se para Trombas com seus pais e mais nove irmãos. Participou do conflito de Trombas e Formoso, estando presente na morte de Joaquim Alencar por José Porfírio e Pedro Barros.

Participou do piquete no Córrego do Sapato que fez emboscada à polícia, com a morte do soldado Damásio. Selvino fez parte, também, do piquete no Córrego da Onça. Foi preso em maio de 1972 e em pouco menos de um mês foi solto. Hoje possui 71 anos e vive em Minaçu. 

Fonte: Depoimento concedido ao documentário “Trombas e Formoso: memórias de uma luta”

 

Joana Pereira Marinho

Esposa de Raimundo Pereira Marinho, militante da revolta de Trombas e Formoso. Chegou à região de Trombas, em 1951, com o intuito de melhorar de vida. Antes, residia em uma região conhecida como Olho Grande, acima de Carolina, no Maranhão. Veio para Goiás com os pais, tendo notícia de que no local havia muita terra pra trabalhar. Na época se chegava e se apossava da terra desejada. 

Morou um ano na chácara de sua cunhada e, em 1952, tirou sua própria posse, um pedaço de terra de 35 alqueires, onde criavam galinhas, porcos e plantavam roça. Hoje Dona Joaninha possui 81 anos e reside na mesma terra que tirou há quase 60 anos atrás.

Fonte: Depoimento concedido ao documentário “Trombas e Formoso: memórias de uma luta”

 

Carmina Castro Marinho

Esposa de Nelson Marinho, militante da revolta de Trombas e Formoso.